Desenvolvido pela Massive Damage, Inc., Halcyon 6 representa o que há de bom e não tão bom em jogos de exploração e estratégia. De modo breve, isso significa que o título muito provavelmente vai agradar aqueles que estão acostumados ao gênero e, ao mesmo tempo, deixar possíveis novos jogadores um pouco receosos, muito em parte devido à grande quantidade de informações presentes na tela de jogo. Vale mencionar que ele incorpora aspectos de RPG’s de turno, o que quer dizer que o combate é feito, logicamente, por turnos, e há uma progressão das personagens. A versão original do jogo, aquela de 2016, recebeu críticas da mídia especializada quanto à duração do título e à progressão lenta da campanha. Não tive paciência para terminar essa versão, mas, sabendo que um dos aspectos da Lightspeed Edition foi justamente ter aprimorado o tempo hábil para fazer as coisas, decidi persistir nesta. As impressões completas você acompanha logo abaixo. As imagens são mescladas entre as minhas próprias capturas e screenshots fornecidas pelo site da desenvolvedora.

Direção de arte

Como já é costume nessas análises, o primeiro aspecto a ser observado é a direção de arte. As personagens de Halcyon 6 são bonitas e o universo apresentado na perspectiva pixel art moderna é atrativo também, ao menos no começo. Após passar várias horas encarando os mesmos planetas, no entanto, a coisa perde um pouco da mágica. Compreendo que, por ser um jogo indie, não dava para esperar uma customização individual de dezenas de astros, mas senti falta desse nível mais detalhado. De qualquer forma, não significa que o design de Halcyon 6 seja feio, muito pelo contrário. A estética de pixel art moderna é interessante e coube direitinho na proposta da ambientação do game. Olhando de outra perspectiva, a padronização das categorias de mundo são importantes para facilitar um pouco a experiência do jogador – e, sendo sincero, essa parte é fundamental, porque não há muitas facilidades, principalmente no começo. Por categoria de mundo, entenda planetas gasosos, cinturões de meteoro e sistemas mais tranquilos. Cada um deles pode ser adquirido pela tripulação visando obter recursos. Ou seja, um tipo dá energia, outro concede materiais, outro combustível e até mesmo um para colonos. Ao conquistar um território desses, o jogador tem a opção de transformá-lo numa colônia ou evacuar os cidadãos presentes (este último garante 30 colonos de material), o que fará com que o ícone de uma caveira apareça rente ao planeta. Tudo isso foi num nível macro; mudando para o micro, temos que o design da estação Halcyon 6 é bem típico de jogos mobile, como Fallout Shelter. Não é de se surpreender, dado que a empresa responsável pelo jogo se catapultou no mercado com um título destinado para celulares. Caso não faça ideia do que estou falando, a imagem abaixo ilustra bem o padrão usado para desenvolver a infraestrutura que será usada ao longo da jornada. Já no quesito personagem, o brilho está nos NPC’s com quem o jogador mantém contato, sejam eles alienígenas hostis que parecem saídos de um livro do Lovecraft – inclusive com nomes semelhantes – ou outras raças mais “amistosas”. Coloco o nível de amizade entre aspas por razões que serão explicadas mais à frente, na parte sobre o enredo. De todo modo, a variedade que faltava na construção dos planetas está presente nas personagens encontradas pelo usuário. À parte de algumas situações divertidas dentro da nave, essa mesma diversidade não pode ser encontrada nos humanos controlados. Os oficiais são genéricos e mesmo a história de fundo deles – que pode ser acessada no perfil de cada um – não é muito contundente. Tanto o é que, quando eles morrem, morrem permanentemente, a menos que você tenha uma câmara de clonagem, o que permite criar uma cópia dos oficiais falecidos em batalha. Isso atesta para o fato que as personagens humanas são meras engrenagens para o jogador se divertir. As naves, por exemplo, parecem ter mais personalidade que seus capitães. São quatro classes – efetivamente, mas, na prática, você vai usar três, a menos que queira jogar com mais calma e prudência -, cada uma com duas naves por nível do hangar. É possível fazer o upgrade de todas elas e, não só adicionar itens ao inventário, no maior estilo J-RPG, que foi justamente a sensação que os desenvolvedores procuraram passar.

Enredo e campanha

A história de Halcyon 6 não tem nada de inovador ou muito desenvolvido. Você é uma espécie de vice-almirante da estação espacial que leva o nome do jogo e, quando a comandante é atacada por alienígenas hostis nunca vistos antes, você deve tomar o controle do lendário local habitado pelos humanos que, no caso, virou o último bastião da humanidade. Por meio de diálogos com outras raças, o jogador descobre que esses novos alienígenas chamados Chruul destruíram a Terra e o equivalente à Federação Galática do universo do jogo. Isso significa que você, o jogador, é responsável pelo que sobrou da vida humana no universo. Desnecessário dizer que todos os vizinhos intergalácticos, ao saberem da destruição quase total do Homo sapiens, decidem atacar os planetas sob jurisdição terrestre ou criar joguinhos políticos no melhor estilo Game of Thrones. A parte boa é que, por causa disso, temos várias interações dignas de ouro entre as espécies, como as que seguem. No meio dessa bagunça universal, temos piratas espaciais, inteligências artificiais potencialmente assassinas, uma raça de guerreiros agressivos que deu um golpe nos líderes anteriores do planeta e até videntes inescrupulosos que não fazem nada a não ser espalhar o caos e a discórdia. Tudo isso, claro, no meio dos extraterrestres genocidas que apareceram de supetão e destruíram metade da galáxia. A falta de outros humanos é o que torna a história mais interessante, já que você precisa lidar com essas raças curiosas para fazer missões e descobrir mais sobre os invasores. Desnecessário mencionar que o jogador precisará enfrentar essas raças em outros momentos, estes que serão sempre anunciados como um “mal entendido” entre as civilizações. Não pense ser só com os humanos também; as raças vão batalhar entre si para conquistar território e, além disso, ambos os lados pedirão sua ajuda para resolver o conflito. Cabe a você decidir qual ajudará ou se não fará nada. Pessoalmente, costumei tomar o lado de quem foi atacado, mas depende da situação. O objetivo gira em torno dos Chruul. De onde eles vieram? O que querem? Por que destruíram tudo? Por que não respondem nenhuma comunicação? Seguindo as respostas para essas perguntas, o jogador traça seu caminho para reconstruir a civilização humana e manter a hegemonia no espaço, seja pela diplomacia ou pela aniquilação dos inimigos. Não há muito mais na história que isso, feliz ou infelizmente. Meu maior problema não foi nem com a falta de profundidade da história, já que os encontros aleatórios e as interações com outras federações cobrem esse buraco. Mesmo diminuindo o tempo geral da campanha, o jogo ainda é excessivamente longo. Foram 15 horas e mais de 400 dias in-game para, aparentemente, chegar a algum lugar – atenção, esse lugar não é necessariamente o final. Há um mecanismo para acelerar o tempo, o que é útil, mas nem de longe ideal para tornar a experiência um pouco mais dinâmica. Isso não quer dizer necessariamente que a demora é ruim, mas fica maçante depois de um tempo.

Jogabilidade

Um aspecto interessante proposto pelo jogo é a mistura da estratégia convencional aos combates por turno. Essa mescla apresenta bons resultados ao combinar a necessidade de escolher habilidades que explorem fraquezas das naves inimigas e o pensamento tático que é feito em jogos que funcionam por turnos. A mistura bem sucedida pode ser observada, por exemplo, nos combates em que cada nave inimiga pertence a uma categoria diferente, feita para balancear os conflitos e dificultar a vida do jogador, principalmente nas dificuldades mais altas que requerem maior pensamento estratégico. Na imagem acima, os mais atentos perceberão que os poderes são divididos entre Space Combat e Ground Combat, ou, em tradução livre, combate espacial e combate terrestre. Pois se enganou quem pensou que Halcyon 6 viveria só de batalhas galáticas; várias missões na própria estação – cujas salas precisam ser exploradas por um oficial e liberadas para que seja possível construir estruturas – e em outros planetas requerem confronto direto entre os tripulantes e os alienígenas, o que pode ocasionar a morte prematura de um oficial. Um aspecto secundário, mas bem-vindo aos que gostam de exercer a criatividade, é a oportunidade de renomear as personagens, naves e esquadras. Normalmente, costumo nomear com base nos meus amigos, mas a distância proporcionada pela quarentena do último ano fez com que o contato com todos eles diminuísse, bem como a vontade de viver, então, preferi deixar os padrões fornecidos pelo próprio jogo. Como mencionei antes, há a possibilidade de avançar o tempo do jogo pressionando um botão que funciona como uma espécie de fast forward. Isso agiliza bastante a jogabilidade, principalmente quando você tem vários planetas sob sua jurisdição e não tem drones de carregamento o suficiente, o que te obriga a fazer uma ronda para coletar recursos. Outra utilidade dessa ferramenta é acelerar alguns encontros pertinentes à história, como o enfrentamento de “chefes”, digamos assim, saídos do território dos Chruul. Conforme as personagens de Halcyon 6 avançam de nível, você pode escolher dois caminhos de desenvolvimento. Um funciona como uma especialidade da classe, enquanto o outro permite pegar as habilidades principais de outra classe. A árvore de skills está dividida em poderes passivos e ativos, que valem, a depender do upgrade, para o combate espacial ou para o terrestre. Por exemplo, determinado desbloqueio fará com que as naves pilotadas pela personagem ganhem 10% de força de ataque e precisão. A progressão de liberação das tecnologias é bem natural, ao contrário de outros jogos que te forçam a fazer mil coisas para desbloquear pontos e, nessa altura, poder desbloquear as habilidades – um exemplo básico e recente disso é Middle Earth – Shadow of Mordor/War. Com a aparição gradual de inimigos mais fortes, o jogador pode construir hangares mais avançados e melhorar a frota espacial, que é a principal linha de defesa contra os males extraterrestres, bem como comprar upgrades para as naves já criadas.

Conclusão

Halcyon 6 talvez não agrade os mais puristas dos jogos de estratégia, e o começo caótico cheio de informações pode afastar jogadores novatos nesse mundo, mas, apesar disso, é um ótimo título para jogar casualmente, quando sentir que precisa de uma dose de pensamento mais crítico e não estiver disposto a gastar 6 horas numa partida de Civilization. O design lembra bastante os jogos mobile, o que o torna bastante atrativo aos olhos e potencialmente viciante. Apesar de demorado na campanha, as interações com outras raças representam o verdadeiro ouro da experiência, garantindo risadas e um pouquinho de felicidade para nós nesse momento conturbado chamado pandemia. Além, é claro, de uma distração potencializada por batalhas espaciais contra alienígenas híbridos entre filhos de Cthulhu e crias modernas de Space Invaders. Não comentei sobre a trilha sonora antes, mas ela acerta naquilo que se propõe e que é tão comum a jogos de estratégia: servir de plano de fundo. Cabe citar, entretanto, que uma das músicas de batalha ficou presa na minha cabeça por vários dias, inclusive voltou a tocar, tal qual uma maldição, neste exato instante. Não espere nada muito emblemático, mas também não é de se jogar fora. E se você gostou dessa análise de Halcyon 6, não deixe de conferir outros reviews de jogos gratuitos dados pela Epic Games Store:

TyrannyKingdom: New Lands

Halcyon 6 também está disponível na Steam. Não deixe de dar uma força para a desenvolvedora.

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