O primeiro ponto que você deve considerar antes de matar sua sede diretamente da torneira é de onde vem a sua água. Se ela provém do abastecimento público e passa por tratamento prévio, você já pode ficar um pouco mais tranquilo (mas nem tanto, como explicaremos nos próximos parágrafos). Por outro lado, se ela é oriunda de poços ou de pontos de captação sem passar por tratamento, você precisa ficar mais atento. A água, seja superficial (como a de rios e lagos) ou subterrânea (captada por meio de poços artesianos, por exemplo), é sujeita a contaminação. Essa contaminação pode ser causada pelo homem, como a proveniente de agrotóxicos, ou pode ser natural, como acontece em alguns locais nos quais a região possui substâncias tóxicas (como o arsênio nas cidades de Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais, relatado por este artigo científico). Então, se você faz a captação direta da água, é indicado fazer análises periódicas para verificar se a qualidade está adequada para consumo. Mesmo que a região não tenha nenhum contaminante natural, qualquer substância que contaminou o solo (como combustíveis, pesticidas e outros) pode contaminar sua água. Com relação à água tratada, basta pegar a sua conta de água e verificar: é bem provável que ela esteja dentro dos padrões da legislação (como a Portaria 2.914/2011) com relação a parâmetros como turbidez, pH, coliformes fecais e outros. Teoricamente, ela deveria ser adequada para beber, mas não é bem assim que funciona na prática.

Um caminho perigoso

Antes de entender por que a água da torneira no Brasil não é tão segura, é preciso conhecer alguns detalhes sobre o tratamento de água no país. As estações de tratamento são normalmente planejadas de acordo com a qualidade da água captada. Se essa água for de boa qualidade, o tratamento pode ser um pouco menos complexo e pular algumas etapas desnecessárias. Porém, se a qualidade não for tão boa, é preciso passar por um tratamento mais completo. A água tratada é constantemente monitorada e, antes de sair da estação de tratamento de água (ETA) e entrar na rede de distribuição, a companhia responsável pelo tratamento deve garantir que ela está com qualidade adequada. Essa mesma água costuma receber cloro para encarar o percurso que tem pela frente e que pode não ser tão seguro assim: o caminho da ETA até a sua torneira. Quando percorre as ruas da cidade, a água de abastecimento está sujeita a possíveis contaminações, seja de fontes externas (como um vazamento de esgoto nas proximidades, por exemplo), ou da própria tubulação, que pode estar oxidada e/ou suja. Quando a água chega a sua caixa d’água, ela ainda está sob risco de contaminação (por sujeira, fezes de pombos e outros). Por isso, é importante lavar a caixa periodicamente e mantê-la tampada. Ainda, a tubulação da sua residência também pode ser um ponto de contaminação. Durante todo o trajeto da ETA até a torneira, o cloro pode amenizar esse risco ao eliminar alguns patógenos, como vírus e bactérias, mas ele não é eficaz para alguns contaminantes.

Cloro: amigo ou inimigo?

O cloro é uma substância eficiente para desinfecção da água, mas ele também oferece riscos à saúde. Um exemplo é a formação de trihalometanos resultantes da interação entre cloro e compostos orgânicos (quando eles estão presentes na água). Os trihalometanos são substâncias formadas para um átomo de carbono, um de hidrogênio e três de halogênio (cloro, bromo e iodo). Eles são carcinogênicos e oferecem um grande risco para a saúde, como reportam alguns artigos científicos. Mesmo assim, por serem eficientes, o cloro ainda é uma das principais formas de desinfecção utilizadas.

É melhor beber água filtrada, fervida ou mineral?

A resposta para esta pergunta depende muito da situação. O ato de ferver a água, por exemplo, é muito usado em pequenas comunidades para eliminar possíveis microrganismos. Porém, dependendo da qualidade dessa água, ferver pode não resolver todos os seus problemas. Com relação à filtração, depende muito do processo que você vai usar. Há desde filtros de cerâmica (como os presentes em filtros de barro e em alguns filtros de torneira) a purificadores de água com tecnologias de carvão ativado, raios UV, nanomembranas e outras tecnologias. A melhor escolha depende da qualidade da sua água, ou seja, você precisa descobrir o que deseja filtrar (bactérias, pesticidas, ferro e manganês, etc.). Ainda, no caso da filtração, é preciso lembrar que não basta comprar o filtro e esquecer que ele existe. Os filtros requerem manutenção periódica, troca do meio filtrante, etc. No caso da água mineral, muitos acreditam que ela é sempre a mais segura, mas pode não ser bem assim. Você precisa conhecer a proveniência da água antes de consumir. Nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo (World Wildlife Fund International, 2019) descobriu que a água engarrafada de lá não é mais segura que a água da torneira (a água de torneira é considerada segura em grande parte dos EUA).

A escolha

Então, tudo isso mostra que você pode sim, beber água de torneira no Brasil, mas talvez ela não seja segura. O ideal é optar por um processo adicional para essa água antes de beber (como a filtração). Como a escolha depende da sua região, você precisa ir atrás de informações, seja em pesquisas, conversando com especialistas, na companhia de abastecimento ou em outros lugares. Se você optar por água mineral, é essencial saber a proveniência (alguns dados estão disponíveis no próprio rótulo). Você bebe água da torneira? Deixe nos comentários se aí na sua região é de boa qualidade!

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