Um dos primeiros a utilizar a metodologia diferenciada para acompanhar a invasão russa à Ucrânia foi o professor do Instituto de Estudos Internacionais da Califórnia, Jeffrey Lewis. O pesquisador, que possui especialização em controle de armas, conta que pôde identificar a invasão horas antes do evento se tornar público. Para isso, ele utilizou dados de um recurso muito utilizado por brasileiros na hora de pegar a estrada: o monitoramento de trânsito presente no app do Google. Lewis conta que estava navegando no aplicativo às 03h15 (horário de Moscou) quando percebeu um curioso alerta de engarrafamento fora do horário comum na estrada da Rússia para a fronteira com a Ucrânia, indicando que vários cidadãos ucranianos estavam congestionados em bloqueios na rodovia enquanto fugiam da zona de conflito. Ao perceber que o engarrafamento poderia ser, de fato, o início da invasão, o professor e sua equipe de alunos verificaram imagens de satélites registradas no mesmo horário, assim descobrindo que uma enorme frota de veículos blindados estava partindo da Rússia para o país vizinho. Em um post publicado no Twitter algumas horas antes do início da invasão vir a público oficialmente, Lewis supõe que o tráfego pesado que o Google Maps registrou naquela madrugada, provavelmente, não era de soldados russos carregando seus telefones, mas sim de smartphones de civis presos em bloqueios nas estradas. Depois que as tropas russas começaram a entrar na Ucrânia, o app do Google mostrou o fechamento de estradas em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, juntamente com serviços de metrô suspensos em toda a cidade. Para o professor, suas investigações apontam como o Google Maps pode ser uma ferramenta útil para apontar qual a real situação de pessoas que sofrem em zonas de conflito. O serviço pode, por exemplo, indicar zonas invadidas ou bombardeadas com base no fluxo de pessoas rumo a determinado local.

Recursos de emergências do Maps

O Google Maps é conhecido por trazer informações importantes durante o dia a dia, seja na hora de localizar um endereço ou acompanhar congestionamentos em trajetos conhecidos. No entanto, ao longo dos anos, o app passou também a adicionar outras funcionalidades importantes, incluindo alertas de emergência e desastres naturais, de modo que os usuários possam procurar por locais mais seguros. Durante a pandemia de coronavírus, por exemplo, o serviço do Google passou a exibir o número de casos ativos em cada região do mundo, além de implantar alertas e lembretes de uso obrigatório de máscara de proteção facial em transportes públicos. Além disso, era possível acompanhar a movimentação em unidades de saúde que aplicavam vacinas, permitindo um maior planejamento a fim de evitar filas e aglomerações. No caso do conflito que acontece na Ucrânia, a ferramenta também tornou-se uma importante aliada para civis, já que permitiu procurar por abrigos antiaéreos caso soasse uma sirene em uma cidade. A Embaixada da Índia, por exemplo, deu essa orientação para cidadãos ou estudantes que ainda estavam em território ucraniano. Apesar disso, tal recurso não está mais disponível no Google Maps. No último domingo (27), o Google decidiu desativar seus radares e interromper serviços de vigilância na Ucrânia em meio ao conflito. Após consultar especialistas e autoridades federais, a empresa optou em remover a camada de trânsito em tempo real dos mapas, assim como a ferramenta de ver movimentações de pessoas em lojas e restaurantes, por exemplo. À Reuters, a gigante de Mountain View declarou ter feito a mudança no aplicativo “para garantir a segurança de comunidades locais no país”. Os únicos indicadores visíveis são de interdições nas estradas que levam às fronteiras de Kiev, além de alguns abrigos antibomba na capital Kiev.

Tecnologia a serviço da informação

Apesar das limitações impostas pelo Google na atualização do último domingo, outros serviços vêm permitindo acompanhar a situação caótica no Leste Europeu. O Flight Radar, por exemplo, mostra o espaço aéereo da região em tempo real. Desde o início dos conflitos, é possível notar o vazio que paira sobre o país ucraniano. O serviço, famoso por mostrar a movimentação de aeronaves ao vivo, já registrou outros acontecimentos importantes, como a queda do avião da Chapeconse, ocorrida em 2016 e que vitimou mais de 70 pessoas. Outra ferramenta disponível atualmente para acompanhar as principais novidades em relação ao ataque russo em solo ucraniano é o MapHub. Utilizando como base informações disponíveis no Twitter, TikTok, YouTube e outras plataformas, o site exibe quase que instantaneamente os avanços das tropas russas na Ucrânia. Criado pelo Centre for Information Resilience (CIR), o mapa é alimentado por imagens e vídeos que são postados nas redes sociais citadas e junto da Inteligência de Fontes Abertas (OSINT) há uma verificação e confirmação dos dados, antes da sua disponibilidade no site. Dessa maneira, toda informação pública disponível na internet se torna o material visto no MapHub. O projeto visa distribuir informações confiáveis para formuladores de políticas e jornalistas sobre a situação dentro e ao redor da Ucrânia. Mas apesar dos inúmeros recursos e ferramentas que vêm ajudando a acompanhar mais de perto tudo o que ocorre na Ucrânia, especialistas acreditam que tais artifícios deixaram de funcionar muito em breve. Segundo eles, as forças militares estão constantemente em busca de ataques sigilosos, portanto, não seria incomum notar quedas de sinal da rede celular ou “iscas” para confundir observadores e manter os blindados despercebidos.

Veja também:

Com 137 mortos e mais de 380 feridos relatados oficialmente, confira as fotos e vídeos mais impressionantes da guerra da Ucrânia e Rússia no Instagram. Fontes: The Verge, The Washington Post, Twitter.

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