Algumas pessoas de grande influência no mundo corporativo, como Bill Gates, fundador da Microsoft, tem alertado para o fato de que, após o fim da pandemia, o mundo não voltará a ser o que era antes. E esta é uma posição defendida também por Barry Eichengreen, professor de economia e ciência política da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) e ex-consultor sênior do Fundo Monetário Internacional (FMI), e que afirma que aquilo que conhecemos por “globalização” até 2019 será totalmente diferente do que veremos após o fim da pandemia

COVID-19 e a Grande Depressão

Em entrevista concedida para a revista Exame, o ex-consultor do FMI não se mostrou muito otimista quanto a uma recuperação econômica para esta que pode ser uma das piores crises da história de muitos países. Usando os Estados Unidos como exemplo, Eichengreen afirmou que não é uma relação assim tão correta comparar o que acontece hoje com a Grande Depressão, que começou com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em outubro de 1929 e levou o país ao pior nível de desemprego de sua história. Esta comparação não é das mais corretas pela forma diferente forma como ambas as crises evoluíram: enquanto a Grande Depressão afetou primeiro o mercado de ações e, somente depois, outros setores da economia, a pandemia de COVID-19 afetou primeiro todos os outros setores da economia antes de começar refletir no mercado de ações. E, por isso mesmo, a crise causada pela pandemia deverá atingir níveis de preocupação urgente muito mais rápido, pois se a Grande Depressão fez com que em quatro anos os índices de desemprego nos Estados Unidos chegassem a 25%, as projeções dos economistas é que esse mesmo nível seja visto já no final de maio no país, o que faria com que, em apenas 4 meses, o COVID-19 fosse responsável por causar a mesma proporção de desempregados no país do que os 4 anos de depressão econômica.

O “fim” da globalização

O economista acredita também que a pandemia deverá mudar para sempre o cenário da globalização da economia em todo o mundo. Ele aponta que já era possível ver empresas buscando encurtar suas cadeias de suprimento para evitar problemas políticos (como a guerra fiscal entre EUA e China) e a pandemia de COVID-19 deixou claro por que ter uma cadeia de suprimento muito dependente de longas viagens de avião ou navios pode trazer diversos problemas em períodos de mobilidade reduzida. Eichengreen também aponta como o turismo tem sofrido durante este período de quarentena, afirmando ainda que a recuperação não deverá ser tão rápida quanto os mais otimistas esperam porque muitas pessoas ainda estarão receosas do surgimento de uma segunda ou terceira onda de contaminação do vírus, o que deverá diminuir a procura por viagens que não sejam estritamente necessárias. Esse receio por sair de casa e a busca das empresas por alternativas de fornecimento mais próximos de onde estão instaladas que deverá significar o “fim” da era de globalização que vivemos nos primeiros vinte anos deste século. Não que ela deixará de existir, mas deverá se tornar algo muito diferente daquilo que existia até o fim de 2019. E é por isto que ele também acredita que a China deverá perder muito de sua força após essa pandemia, já que ela é o país que mais tem se beneficiado por uma busca das empresas em apenas procurar por matérias-primas e mão-de-obra mais barata, independente de onde estejam, e o país asiático não deve retomar os mesmos níveis de crescimento quando essas indústrias passarem a contratar fornecedores mais próximos de suas sedes e se deparar com um mercado de exportação fraco.

Recuperação econômica

Ao contrário dos modelos de recuperação mais otimistas, que preveem uma curva de recuperação econômica em “V” (uma queda brusca enquanto a pandemia continuar existindo, mas com uma recuperação também muito rápida após o desenvolvimento de uma vacina que permita o fim dos isolamentos e que as pessoas retornem a suas vidas normais), Eichengreen acredita mais em uma recuperação no estilo “U”, com uma aceleração econômica mais lenta. Isto deverá acontecer porque muitas famílias se deram conta de que não estavam preparadas para uma crise tão grande, e deverão investir mais em poupanças por conta da preocupação de um retorno do vírus ou da ocorrência de um outro choque econômico parecido no futuro.  Enquanto isso, muitas empresas também ainda estarão receosas de que um retorno do vírus as obrigue novamente a fechar as portas e parar a produção, e por isso estarão menos dispostas a se comprometer com projetos ambiciosos de investimento para retorno a médio e longo prazo enquanto não houver a certeza de que o vírus não irá retornar com a mesma força atual. O economista ainda defende que a melhor forma de garantir que os grandes níveis de desemprego que serão provocados pela doença não afetem ainda mais a economia dos países, é o governos desses locais garantirem os chamados “pacotes de proteção” a seus cidadãos – ou seja, o investimento de dinheiro do governo não em isenções fiscais para empresas, mas direto no bolso das pessoas. Eichengreen defende que não é o momento de dar estímulos para que as empresas voltem a contratar, pois as pessoas não devem voltar ao trabalho enquanto não for totalmente seguro fazer isso. Por isso, ele afirma que essa é a hora de se concentrar no apoio social, e garantir que as pessoas possam continuar sobrevivendo enquanto não se cria um ambiente seguro para este retorno ao trabalho, quando já teremos mais respiradores em hospitais, maior facilidade para testar quem está ou não com a doença, e um número maior de pessoas imunes circulando. O ex-consultor do FMI afirma que, apenas depois disso, que os governos deverão pensar em formas de estimular o desenvolvimento da economia, com apoio fiscal para todos os setores possíveis e por extensos períodos de tempo para que a economia como um todo possa voltar a crescer após a pandemia. Fonte: Exame

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